Comportamento e música: o que ouvimos mudou com a pandemia?
Você é do tipo de pessoa que respira e transpira música? Então já deve ter notado que, com a chegada da COVID-19, algumas coisas andam diferentes nesse universo.
Estamos praticamente há 9 meses lidando com a pandemia e, com isso, sofrendo mudanças que nunca imaginamos com a necessidade do isolamento. Nosso dia a dia está adaptando-se aos poucos ao chamado “novo normal”, mas independente do que as pessoas estão buscando fazer de forma segura, a rotina está diferente e a nossa forma de consumir música também.
Ouvindo mais música em casa, do que na rua.
Os aplicativos de streaming de música e vídeo estão atentos ao comportamento dos usuários e suas variações, desde o início da pandemia. De acordo com o Deezer, houve uma mudança drástica entre o uso externo e o uso doméstico, o que é até compreensível, afinal todos estavam em sua maioria em casa, seja em pausa ou trabalho home office. O horário caminhou com essa mudança.
Não havia mais aquele grande volume de pessoas se deslocando entre casa e empresa no trânsito. O pico do uso dos serviços de música, que antes eram pela manhã até às 7am, passou a ser um pouco mais tarde, a partir das 10h.
Já nos fins de semana, enquanto antes as pessoas ouviam mais música à noite, passaram a ouvir mais à tarde, provavelmente para afastar o tédio. Inclusive, se usava mais os streamings na sexta, sábado e domingo, o que simboliza a expectativa para os encontros entre amigos e familiares. Com a quarenta e o afastamento social, os outros dias, de segunda à quinta, se igualaram.
Os meios para curtir a música também mostraram uma diferença. Se antes o celular era o companheiro, houve um aumento do uso por aparelhos domésticos como smart TVs e gadgets como o bot Alexa. Só no Brasil esse aumento foi de 102% (60% no mundo).
Nossas playlists ganharam uma cara nova
Segundo um levantamento do Spotify Brasil, a quantidade de playlists também aumentaram. A comparação foi feita levando em conta as playlists produzidas antes do isolamento da pandemia e depois. Com mais tempo com atividades em casa, naturalmente os usuários buscaram ouvir músicas de maneiras que preenchessem melhor esse tempo.
Uma estratégia bem legal do Spotify foi criar o ranking “My Top Lockdown Songs”, o qual o próprio algoritmo reúne as músicas que você mais gostou em isolamento.
Importante ressaltar que bem na metade do ano, houve um certo “choque” em relação aos gêneros musicais ouvidos. O levantamento realizado pelo DataFolha mostra uma população bem frustrada e desejando sua liberdade de volta. O top 200 do Spotify, coletado em 34 países, revela que no Brasil a variação da tristeza refletida em músicas foi muito grande, mais do que no início da pandemia. O que pode explicar uma certa frustração por um período tão grande de incertezas.
Já em outros países, o sentimento de tristeza veio acompanhado de alguma esperança e conexão com o passado. As pessoas passaram a buscar músicas com mensagens positivas, que simbolizavam união. O fluxo de canções como “We are the world”, dobraram na Itália, Espanha e Estados Unidos.
Inclusive, em entrevista à Rolling Stone, o Spotify explicou que os números de “Abbracciame”, de Andrea Sannino, e de “Azzuro”, de Adriano Celentano, musicais que talvez você não conheça, cresceram mais de 700%. Tudo isso, depois dos vídeos que viralizaram de pessoas cantando essas músicas nas varandas de suas casas.
Felicidade x tristeza nos streamings
No Brasil, os hits que emplacaram e que traduzem os momentos de reflexão, vão do suave ao drama. Os usuários buscaram ouvir até mesmo de Pabllo Vittar, conhecida pela animação, sonoridades mais lentinhas como “Salvaje” e “Ponte Terra”. Surfando na mesma onda teve “Me conta da tua janela” da dupla Anavitória e “Você para sempre em mim” de Tiago Iorc.
Também ganharam destaque as músicas “After Hours” e “Alone Again” de The Weeknd; “Todo errado” e “Procuro Alguém” do rapper Djonga.
Não são apenas essas novidades protagonistas da pandemia. As pessoas também buscaram por hits antigos mais reflexivos como “Apenas mais uma de amor” de Lulu Santos, “Every Breath you take” do The Police e “Tempo Perdido” do Legião Urbana.
Mas de alguma forma, todo mundo parece agora estar recuperando o fôlego emocionalmente. Em meio às músicas em playlists temáticas produzidas para trabalhar, cozinhar, relaxar e malhar (só esta última cresceu 227% de acordo com o Deezer), foram as músicas populares agitadas para dançar, as mais curtidas com aumento de 1000%.
Aqui na Sensorial seguimos ouvindo muito som e acompanhando de tudo um pouco. Somos inquietos e nossa inspiração vem de diversos lugares, não só no cases de marketing. Isso é bem pouco pra gente. Nossa metamorfose diária vem da música, filmes, séries e um bom bate papo acompanhado de um drink, como gosta todo bom e velho pirata!
Jornalista. Amante de porquinhos da índia, leitora voraz de suspense, tem como memes uma religião, na vida é 50% bons drinks, 50% séries e filmes.