Mad Men: trouxe bons motivos para você devorar a série
Tá procurando por aquele tipo de série que você começa um episódio, acaba todas as temporadas em um fim de semana e quando vê a tela do Netflix pela 132484 vez, se questiona “o que eu estou fazendo com a minha vida?” então você veio ao lugar certo e como boa Sensoriana, te convido a dar um mergulho no universo dos publicitários da década de 60, os Mad Men, porque as pautas da época nunca estiveram tão atuais. Vem que o mar está para peixe!
Este artigo contém uma série ganhadora de Globos de Ouro e Emmy, uma aulinha de história, imagens com figurinos incríveis, representatividade feminina, hábitos de consumo e a maravilhosa da Elisabeth Moss (é, aquela de Handmaid’s Tale!). Já sentiu o impacto daqui? Então BOTA.
“Tem Mad Men no Netflix”? TEM!
A série foi produzida em 2007 e transmitida nos EUA pelo canal AMC, mesmo canal de outras duas séries famosas como Breaking Bad e The Walking Dead. Aqui no Brasil foi veiculada há um tempo pela TV Cultura e a HBO, mas atualmente têm as 7 temporadas disponíveis na Netflix, o que facilita muito a vida, não é mesmo?
Dá para você assistir no sábado com os amigos, dá para ver também no intervalo do almoço no trabalho, no ônibus voltando para casa e etc, até porque o episódios têm um ritmo tranquilo e envolvente, aguçam a curiosidade e quando você acaba um, já está querendo saber o que acontece no próximo. O sentimento é de total imersão mesmo e vamos contar nos próximos tópicos o porquê.
Descubra como era o mercado publicitário na época
Os Estados Unidos estavam em ascensão durante a década de 50 e 60, linha temporal utilizada pela série, quando o boom do american way of life era um estímulo ao consumo da população. Por isso, faz todo o sentido que a publicidade ganhasse espaço como estratégia de vendas das empresas, o cenário econômico era mais do que positivo e as pessoas eram muito mais influenciadas pelas propagandas do que são hoje em dia. O tipo de publicidade OFF (editorial) era a única referência da época. Hoje em dia temos o formato ON (digital), que deu origem ao marketing que conhecemos.
Podemos dizer que a internet está para nós atualmente, como as revistas e a TV estavam para o público da época. Inclusive, a popularização do aparelho ditou comportamentos que favoreceram com que os Mad men da época pudessem dar retorno imediato aos seus clientes.
Falando em Mad Men, a expressão é uma referência aos homens engravatados que circulavam na Madison Avenue, rua famosa de Nova York, criando uma espécie de trocadilho que unia as primeiras letras da rua e remete ao termo Mad (louco) e Ad (anúncios), em tradução livre: “Louco dos anúncios”. Um reflexo bem contundente do comportamento dos publicitários da época, que moviam céus e terras para dar visibilidade à grandes marcas, fazendo o que tivesse que ser feito para isso.
Foi nesse contexto que nomes grandes da publicidade surgiram também como David Ogilvy, Bill Bernbach e Helmut Krone. Há referências a eles nos episódios em vários momentos, o que deixa a gente mais curioso em acompanhar história.
Fique de cara com as polêmicas da época
Estes engravatados da Madison Avenue eram mais do que profissionais convincentes e criativos, eles viviam no limite mesmo em uma época tão conservadora. Fumavam em grandes quantidades em todos os ambientes, alguns usavam drogas, tinham péssimos hábitos de saúde (naquela época pouco se falava sobre os impactos de hábitos ruins, não é mesmo?) viviam bebendo durante o expediente e depois (tudo era uma desculpa para um copo de uísque), davam festas e se comportavam como se tudo pudessem comprar as pessoas ou influenciá-las pelo seu status. Ser um publicitário Mad Men era um estilo de vida de poder e adrenalina.
Há diversos momentos na série que uma reunião (que podia ser tanto no escritório, como num bar ou restaurante qualquer) para apresentar campanhas, propostas e fechar negócio com cliente, envolvia boas doses de álcool, comidas pesadas, assuntos pessoais, música e até mesmo adultério.
Ah, o adultério. Os Mad Men viviam para o seu trabalho e para o prazer, colocando suas famílias sempre em segundo plano. A vida regada de farras, dinheiro e conturbações, favorecia os encontros às escondidas, inclusive com as funcionárias da empresa. Aquela situação caricata da secretária que se relaciona com o chefe é bem datada.
Falando em secretárias, o clássico papel da mulher dona de casa está presente, os produtos voltados ao lar e a forma de encarar a mulher como uma consumidora sem muita personalidade e fútil fazem parte da história.
Mas no meio da manipulação masculina e das visões antiquadas, Mad Men é também sobre representatividade. Há também muitas mulheres entrando no mercado de trabalho na série e procurando ocupar espaços que não eram destinados a elas. Algumas que ainda se veem presas nos moldes daquele tempo, já outras apresentam um crescimento e independência relevantes para a história. É o que acontece com a personagem da Elisabeth Moss, Peggy Olson.
A série encontra o seu diferencial porque não está o tempo inteiro falando sobre publicidade, no meio da história sobre as propagandas, o roteiro nos abraça e fala das relações pessoais de trabalho, família, relacionamentos afetivos e outros. Mad Men nos mostra diversas situações que poderíamos achar erradas hoje em dia e que inclusive causam um pouco de constrangimento ao assistir, mas eram comum nos anos 50 e 60. Há situações de racismo aparente e antissemitismo também, polêmicas sobre aborto e religiosidade. Situações de preconceito surgem sutilmente em uma conversa com personagens, na construção de um anúncio para um produto ou na contratação de um profissional para a firma.
O personagem principal chamado Don Draper, é um dos publicitários de alto cargo, de muito sexy appeal e caráter duvidoso que ajuda a contar a história de Mad Men. Ele consegue nos transmitir um misto de sensações que o torna peça chave para várias momentos da série.
Uma hora sentimos pena e tristeza por ele carregar um grande drama e um segredo sobre sua vida pessoal, mas nos outros momentos somos envolvidos por repulsa e raiva por causa da sua genialidade publicitária, sua arrogância, impulsividade e cafajestice também. Com ele conseguimos compreender como a figura masculina dominava as engrenagens das propagandas e das grandes empresas.
E, ao contrário do que possa parecer, a série não procura levantar bandeiras, nem tem pretensão em passar lições, ela apenas faz um recorte de uma geração usando de ironia e humor, o que torna muitas situações divertidas e dramáticas ao mesmo tempo. Portanto, é natural que ao assistir nos perguntemos se tudo aquilo que passamos a compreender como “errado” é ainda errado mesmo. O confronto entre o antigo que parece atual é um dos pontos altos de Mad Men.
Faça uma viagem no tempo nos momentos históricos
Os momentos históricos em Mad Men ajudam a ambientalizar a série, mas também nos deixam maravilhados, vê-los entre as histórias que são contadas faz parecer que estamos vivenciando o exato momento dos acontecimentos, alguns deles são a Guerra da Coreia e do Vietnã, o assassinato do Presidente Kennedy, a morte de Marilyn Monroe, a crise dos mísseis em Cuba, chegada do homem à Lua e morte de Martin Luther King.
Quais as lições que Mad Men deixa para a publicidade atual?
Sim, podemos aprender muito com Mad Men e as questões são inúmeras, mas para o universo da publicidade, temos algumas coisas para compartilhar com vocês.
Os tempos mudam e ainda bem: Das publicidades apelativas e abusivas dos anos 50 e 60, a nossa forma de ver o público hoje em dia é mais humanizada e respeita suas pluralidades. É possível e importante enxergar as personas quando se cuida do material de um cliente, mas não deixar que os indivíduos sejam caricaturas deles mesmos.
Faça cada vez mais parte da vida das pessoas: a publicidade antiga trabalhava massivamente com a ideia de fazer as pessoas acreditarem que precisavam de um produto no seu cotidiano até que comprassem. Hoje em dia a publicidade busca sair do “feijão com arroz” do apenas vender e comprar. Há um mundo além para ser conquistado e nem todo mundo é influenciado com a facilidade de antes. A publicidade atual procura compreender o comportamento das pessoas, seus lugares no mundo, suas perspectivas e desejos, para isso, constrói relevância contando histórias, informando, emocionando e divertindo com muito maior embasamento que antes. A publicidade quer trazer relevância e soluções para os seus clientes.
Boas ideias podem surgir em qualquer momento: na série vemos alguns personagens vivendo em imersão em seus cargos e processos de descoberta. Eles são publicitários não apenas quando entram em seus escritórios, mas no dia a dia observando o que as pessoas fazem, é aí inclusive, que alguns personagens tiram as melhores ideias! Em um episódio a personagem Peggy aproveita que está em um drive thru de uma lanchonete e pergunta a alguns clientes o que eles esperam daquele lugar e porque o escolheram. Por isso, não há nada melhor para se criar conteúdo e compreender um público se aproximando dele. Seja conversando com consumidores próximos ou com o cliente. Pesquisar, observar, ler e assistir são atitudes que impulsionam a criatividade. Esteja sempre por dentro de tudo.
Reconheça o valor de um trabalho: desde o início de Mad Men até o final da última temporada, muitos personagens crescem dentro da agência e a agência cresce com eles, passando por diversas mudanças. Nem sempre surgirão ideias incríveis, mas regá-las e estimulá-las pode ser um fator decisivo para que o futuro traga bons frutos. Valorizar e lutar por ideias faz parte do processo de crescimento. Na série isso acaba trazendo de volta alguns clientes que já tinham saído porta a fora.
Tenho certeza que depois de tudo isso, você já colocou Mad Men na lista do Netflix (e como meta de vida). Para finalizar nosso papo de hoje, deixo algumas das frases mais incríveis da série para inspirar as cabecinhas pensantes da publicidade!
- Se você não gosta do que está sendo dito, então mude a conversa.
Don Draper - Um slogan não é nada quando você tem uma boa ideia.
Peggy - Publicidade é baseada em felicidade. Felicidade é a liberdade do medo; é um outdoor na beira da estrada que grita com a garantia de o que você está fazendo é o certo.
Don Draper - A única coisa pior que não conseguir o que se quer, é alguém conseguir.
Roger - O sucesso vem de se destacar, não se encaixar.
Don Draper - Estar com um cliente é como estar em um casamento.
Roger
Jornalista. Amante de porquinhos da índia, leitora voraz de suspense, tem como memes uma religião, na vida é 50% bons drinks, 50% séries e filmes.